sexta-feira, 12 de julho de 2019

O Espírito Punk da cena do RPG solo

Galera, eis aqui mais um post em que expresso somente a minha opinião, longe de qualquer doutrinação ou cagação de regra.
É apenas a MINHA visão, sinta-se totalmente livre para discordar dela. Como sempre digo, nunca vou achar que minha opinião vai ganhar valor de regra...se algum dia eu agir assim, vou considerar que eu perdi na vida!

Pois bem, é assim que vejo a cena do RPG solo




Começamos bem modestos. Eramos 10,12 malucos torcando ideia sobre como jogar rpg sozinho, no melhor espírito "do it yourself".
O tempo passou, e hoje, surpreendentemente, existem até discussões se o RPG solo teria a possibilidade de entrar no "mainstream" e ter produtos tão significativos quanto sistemas tradicionais.
Só o fato dessa discussão ser citada uma ou duas vezes - e veja bem, FORA da nossa comunidade - já é um sucesso por si só, independente da procedência.

Agora, vou fazer a mim essa pergunta:

"Tarcisio, você acha possivel que surjam sistemas de RPG solo que sejam, comercialmente, realmente competitivos, no quesito vendas, divulgação e marketing, com os medalhões do RPG tradicional?"

Resposta: Sim, acho totalmente possível. Acho que isso vai acontecer cedo ou tarde.
MAs eu , sinceramente, preferiria que não!

"Como assim, Tarcisio?!?! Traindo o movimento?????"


Resposta: De forma alguma

Eu acredito que movimentos undergrounds são extremamente necessários. Eles escancaram as fragilidades do status quo, e servem de parâmetro para reforçar as qualidades que esse mesmo estado "vigente" tem.

Um exemplo encontramos na música: o Punk rock, um estilo que surgiu rebelde, mal produzido, tosco, sujo, independente, escancarou toda a afetação que havia se transformado o rock.
Esse movimento influenciou a musica que veio depois - incluindo estilos que ele "se rebelava", influenciou a moda, a política, os movimentos sociais.

Foi na crueza que se encontrava a grande força do punk.

Eu acho que o RPG solo atualmente é o punk rock do RPG. De verdade.

A cena do RPG solo faz questão, o tempo TODO, de deixar claro que você pode fazer o que quiser, criar o que quiser, do jeito que quiser, sobre o que quiser.

Temos rpg solo no qual você interpreta uma árvore (e não falo de Ents tolkinianos, não, falo de uma árvore mesmo!).

Gente que não se meteria a criar em outros ambientes cria enlouquecidamente dentro da cena do RPG solo.

"Ai, Tarcisio, mas quantidade não é sinônimo de qualidade!"

Não , não é. Mas aí que entra o verdadeiro espírito punk da cena.
Não estamos aqui para agradar ninguém além de nós mesmos.

Alguns jogos que eu produzi parecem um grande "foda-se" ao que se esperaria. Mas é assim que eu quero jogar, vou jogar só comigo mesmo aquele jogo, então faço  o MEU jogo, do MEU jeito.

Em uma época em que existe a tendência de transformar tudo, absolutamente TUDO em produtos pré-moldados para se encaixar dentro de uma luva - uma audiência, o RPG solo quebra essa lógica, ou melhor, permite que se quebre essa lógica.

O jogo da Lorena é o jogo da Lorena. Ela fez por que é o que ela gostaria de jogar. Você pode achar legal, você pode achar "não-legal". Vai continuar sendo o jogo da Lorena, feito pela Lorena PARA a Lorena. Se servir para ela, e só para ela, já cumpre 100% de sua proposta! Se mais gente comprar a ideia da Lorena, melhor ainda. Mas esse nunca vai ser o ponto!

(Aliás, eu achei o jogo da Lorena muito bacana, e por isso escolhi como exemplo. E MUITA gente curtiu e comprou a ideia dela!)

É preciso que existam espaços de caos criativo dentro de uma área que trabalha diretamente com criatividade, criação, imaginação.

O punk rock na década de 70 vivia dizendo: você sabem tocar, vocês sabem produzir, vocês são foda! Mas a gente também quer fazer isso, e o que faltar, a gente vai fazer do nosso jeito, e se você não curtir , é só deixar a gente em paz. Senão vamos chutar suas bundas"

No fundo, eu analiso a cena do RPG solo como uma cena que não está preocupada NEM com quantidade e NEM com qualidade; a única preocupação da cena, pelo menos até agora, é ser o que ela sentir vontade de ser, livre de flutuações de opinião, de mercado, de tendências.

Eu nõ quero que a cena solo se aproxima da cena Mainstream não por que eu não gosto da cena mainstream - eu amo essa cena, adoro D&D, pathfinder . É que JÁ temos a cena Mainstream, e não precisamos de outra!

Precisamos de ousadia, rebeldia, um certo desleixo pelas regras...coisas que , sinceramente, ESTÃO em falta atualmente, em todos os cenários, de maneira geral.

Não vou ficar nem um pouco chateado se a cena do RPG solo se "profissionalizar"...não estou em uma cruzada contra a qualidade técnica, visual, criativa, de maneira alguma!

MAs a graça pra mim é ver a cena tendo uma dinâmica totalmente diferenciada, onde jogos surgem do dia para a noite, pessoas que nunca criaram nada apresentando seus jogos, e todo mundo muito mais preocupado em falar "parabéns, continue" umas para as outras do que qualquer outra coisa!

Porque não tenho visto isso em praticamente nenhum outro lugar atualmente.

Isso é algo que conquistamos, e enquanto for assim, vamos ter orgulho SIM disso!

Enfim, vou apoiar tudo que for feito no intuito de popularizar o RPG solo. Vou apoiar cada salto de qualidade, cada projeto, inclusive financeiramente (se eu puder contribuir naquele momento!).

Mas também quero ver uma cena que pensa fora da caixa, e que muitas vezes é capaz de mandar um grande "fuck you" para o que se espera dela, e que siga o caminho que quiser!

3 comentários:

  1. Faço minhas as suas palavras mestre, você foi totalmente feliz no seu texto. Estamos aí na atividade e pronto.

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  2. Achei ótima a comparação com punk rock. O DIY, e esse espírito artesanal, e o objetivo de explorar a criatividade sem qualquer expectativa mercadológica são libertadores. Eu ainda me impressiono quando tenho uma ideia completamente louca, e penso "cara, EU posso jogar jogo!"

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  3. No solo la cuestión de que el do It yourself ya es parte de esos valores que existian en el punk, el hecho de hacer algo que no esta dentro de lo que el rebaño o la gran masa acritica hace ya es un acto de rebeldia. La mejor parte de todo esto es que el rpg solo va también de la mano del minimalismo y es algo que el dinero jamas podrá comprar ni controlar. Para jugar solo necesitas lapiz, papél y buena imaginación, desde el pobre al rico, todos podemos jugar.

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