sexta-feira, 7 de junho de 2019

Análises Críticas de livros de RPG – A enorme diferença entre “Não gosto” e “Isso é Ruim”




Em matérias assim, sei que é um porre dizer isso toda vez, mas vale relembrar: o que escrevo aqui é APENAS minha opinião. Ninguém precisa concordar, eu não acho que minha palavra tem valor de mandamento bíblico!
E também gostaria de dizer que isso não é uma crítica CONTRA a crítica em si. A crítica é importantíssima, especialmente no desenvolvimento de novos jogos, novas edições, e na fase de playtests.A minha matéria é contra as criticas rasas e superficiais.

Dito isso, vamos ao caso:

Algum tempo atrás, em um post de alguém em alguma outra comunidade de RPG, um cara apareceu do nada chamando o sistema 3D&T de “Sisteminha nojento!”
O cara não falou que não gostava, o cara não falou que preferia outros. Simplesmente disse “Sisteminha nojento”. Mas me parece que esse tipo de comentário – que infelizmente ainda é relativamente comum dentro das comunidades – reflete muito mais um gosto (ou desgosto) pessoal do que uma opinião embasada.



Eu acho sim que é possível chegar-se a conclusão que um sistema é ruim, a partir de critérios objetivos, palpáveis. E acho muito mais possível simplesmente não gostar de um jogo, por motivos de interesse pessoal. Super apoio essas duas opiniões, quando bem embasadas.
Mas me parece que muita gente –muita gente mesmo – tem muita dificuldade de diferenciar o “Isso é ruim” do “Eu não gosto”.

NA minha faculdade, tínhamos uma matéria chamada “Apreciação”. Basicamente, ouvíamos peças de musica e analisávamos o máximo possível de elementos daquela obra, seu estilo, proposta, técnicas utilizadas, e até mesmo a execução que ouvíamos. Em Artes, “Apreciar” algo significa analisar objetiva e criticamente determinada obra; não tem nada absolutamente a ver com gostar ou não gostar.

Assim, eu descobri que é possível , totalmente possível, não gostar de algo e ainda assim fazer um esforço consciente para identificar os elementos de algo. Por exemplo, eu descobri que não gosto de Samba. Não mesmo. Mas ao fazer apreciação de musicas clássicas do repertório do Samba – Cartola, Noel Rosa, Clara Nunes – descobri tratar-se de um estilo cheio de nuanças, complexo, com uma origem interessantíssima, que exige técnica e estudo para ser tocado decentemente.
Mas se perguntarem pra mim ainda hoje “Você gosta de Samba?”, minha resposta ainda vai continuar sendo “Não, nem um pouco”. Mas se perguntarem pra mim se Samba é bom, vou responder “Cara, é bom pra cacete!”. E uma coisa não entra em conflito com outra.
(nesse ponto começo a me questionar se estou sendo claro na minha exposição ou apenas sendo chato pra cacete...)

Sinto muita falta de Apreciação dentro da comunidade do RPG.

À esse cara do “Sisteminha Nojento” com certeza faltava essa clareza de opinião. E não falo isso por ser fan boy de 3D&T não. Na minha lista pessoal, jogos como D&Dm Mighty Blade, Old Dragon, Knave, Basic Fantasy, Swords and Wizardry, Espadas Afiadas vem bem antes como preferência.
Mas uma boa Apreciação TAMBÈM leva em conta a recepção que a obra, os desdobramentos e contribuições. Por exemplo, o punk rock é considerado tosco, mas mudou a cena underground e mainstream de forma definitiva.

Assim, ver um sistema como o 3D&T, que já trouxe milhares de pessoas para o hobby, que é um dos mais bem sucedidos em estabelecer uma ponte entre os “veios” (a galera das antigas, como eu e uma boa parte da nossa comunidade) com a galerinha mais nova, me deixa, NO MÌNIMO, PUTO DA VIDA.

E eu me pergunto: O que esse cara já fez de contribuição pra cena do RPG? Será que já fez algo com 1% da relevância do 3D&T para o cenário nacional? Duvido muito.
O cara poderia ter continuado o raciocínio. Poderia dizer “Esse sisteminha é nojento, pois...” e continuado explicando, expondo elementos e fatores que embasassem essa opinião. ISSO faria sentido. Sinto MUITA, mas MUITA falta disso nas comunidades, e isso explica em partes por que eu faço parte de bem poucas comunidades ligadas à RPG no Facebook .

Mas, Tarcisio, o que isso tem a ver com RPG solo?

Bom, o que ainda acontece com RPG solo (mas que tem diminuído muito, graças a Deus) é só uma extensão desse raciocínio. Praticamente todo dia eu tenho que apagar algum comentário no meu canal do youtube com conteúdos do tipo “não existe RPG solo, seu babaca”, “RPG solo é coisa de perdedor” e similares (ok, confesso que tenho um ou 2 “haters de plantão”, que acabam monopolizando esse tipo de comentário). O que é ainda pior, pois é uma opinião mais superficial ainda do que o “gosto” “não gosto”.

O rpg SOLO NÃO É PRA TODO MUNDO. É totalmente possível não gostar do RPG solo. Da mesma forma que jogar online não agrada todo mundo (eu odeio jogar online, via Skype, roll20 e similares). O problema é ver a galera misturar essa questão, colocando o gosto pessoal como verdade absoluta.

Com relação ao RPG solo, por exemplo, se você não conhece nenhum simulador de Mestre, nenhum oráculo, sua opinião nunca vai ser mais do que um “achismo”, sem qualquer valor concreto.
Eu não tenho muito senso critico quando o assunto é RPG, nunca li um livro de RPG que tenha me feito dizer “Isso aqui é ruim”. Sempre vi ao menos uma coisa boa em cada livro que li, e já foram muitos.

Mas ninguém precisa ser bom samaritano, você tem todo direito de achar um sistema/jogo/livro ruim! Só peço que embasem a opinião. É só complementar. “Esse sistema é péssimo, pois...” e continuem.
Agora, simplesmente chamar de “sisteminha nojento” um jogo que está há mais de 20 anos angariando e encantando novos jogadores é só ser babaca mesmo.

Um comentário:

  1. Concordo.
    Mas, infelizmente pedir coerência e racionalidade das pessoas, de modo geral, é pedir demais.
    Continuamos fazendo por ter uma fé de que dá prá convencer/ensinar alguns, mas na prática...

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