Olá, pessoal!
Hoje nosso blog tem a honra enorme de conversar com o Diogo Nogueira, um dos mais conceituados criadores de RPG do país!
Entre as criações do Diogo, temos o fantástico Espadas Afiadas e Feitiços sinistros, o "Solar Blades and Cosmic Spells", o "Perdidos no Mundo da Fantasia" (que virou meu RPG oficial na escola onde leciono), entre outros...
Pois bem, vamos deixar de enrolação e ir logo para a entrevista.
Como sempre, sem edições!
Olá, Diogo! Tudo bem contigo?
Cara, um prazer enorme poder fazer essa
entrevista! Fique a vontade para responder do jeito que achar melhor: respostas
gigantescas, ou monossilábicas, o objetivo do nosso blog é dar liberdade total.
Vamos lá então!
1-Diogo, vamos começar com o “basicão”:
Como foi seu primeiro contato com o RPG?
R: Não sei se livros-jogos contam, mas
eu os conheci acho que na terceira série ou algo assim quando na minha escola
deram a liberdade dos próprios alunos decidir qual livro a classe leria naquele
bimestre e a turma escolheu o Calabouço da Morte. Quando conheci esses
livrinhos eu viciei! Comecei a jogar todos os que eu conseguisse encontrar. Daí
quando me mudei para outro prédio, um garoto mais velho me viu jogando e me
convidou a conhecer um tal de RPG. Minha primeira sessão foi de Tagmar, meu
personagem morreu brutalmente, mas eu me amarrei. Fomos no quintal do prédio e
enterramos a minha ficha de personagem.
2- Relacionado a pergunta anterior, em
que momento você pensou “Vou começar a escrever meu próprio material!”?
R: Acho que foi quando eu li o texto “I
Hate Fun” do James Raggi. Muita gente vê esse texto como um “rant” de um
jogador saudosista contra os jogos modernos e jogadores casuais, mas eu vi e
vejo como um chamado a contribuir para o hobby. Para criar coisas. Para sairmos
da passividade e passarmos a fazer algo. O texto fala sobre como ele está
cansado de diversão por diversão. Aquela diversão passiva de consumir algo
pronto e não criar nada. Sentar no sofá e assistir TV. Jogar aqueles jogos que
já tem tudo pronto e tu só segue um caminho. Como ele quer mais, como ele quer
contribuit algo para a comunidade, ser um criador, um multiplicador. Não sei.
Eu acho muito legal consumir coisas, mas para mim é muito mais gratificante
criá-las. Desenhar, escrever, diagramar. Parece que eu estou fazendo algo
“útil”. Acho que nos aproxima do mito do criador, não?
3-Se você tivesse que apresentar, para
alguém que não conhece seus trabalhos, apenas uma de suas criações, qual seria,
e por que?
R: Eita pergunta difícil. Acho que aqui
pelo Brasil a única opção seria o Espadas Afiadas & Feitiços Sinistros,
não? Embora tenha o Perdidos no Mundo da Fantasia, mas ele não explica muita
coisa e assume um conhecimento prévio. Mas se contar tudo que eu escrevi, acho
que hoje eu recomendaria o Dark Streets & Darker Secrets. Eu amo meus
outros jogos, talvez o Solar Blades & Cosmic Spells seja minha “obra prima”
até agora, mas ele é bem grande e intimida o leitor mais inexperiente. O Dark Streets
tem um tema mais próximo da nossa realidade e lida com o mundo moderno, embora
com camadas de sobrenatural e coisas estranhas. Acho que é de fácil digestão e
tem muitas possibilidades.
4- Você publica também no exterior, e é
bastante reconhecido dentro da comunidade do RPG lá fora. Como foi sua entrada
nesse mundo “internacional”? Você já morou nos Estados Unidos? Foi complicado
publicar seu primeiro trabalho lá?
R: Não sei se sou tão reconhecido lá
não. Acho que o lance é que lá é tão grande o mercado que tu fatalmente vai
achar um nicho pequeno com algumas centenas de pessoas que curtem seu trabalho.
Aqui, infelizmente, a impressão que a gente tem (embora não acredito que seja
inteiramente verdade) é que o mercado inteiro é algumas centenas de pessoas.
Mas não, nunca morei lá fora. A entrada no mundo internacional foi… natural, eu
diria. Por eu gostar de jogos Old School e independentes, as opções no Brasil
são um pouco limitadas. Eu comecei a buscar comunidades lá fora, participar
delas, comecei a falar com as pessoas, criar pequenas coisas e fui muito bem
recebido. A comunidade de DCC RPG é quase como uma família para mim. Fiz amigos
de verdade lá. Então comecei a escrever um blog em inglês e criar conteúdo lá.
O passo de publicar um livro foi só uma consequência disso. Por incrível que
pareça, é mais fácil publicar lá fora do que aqui, por diversos motivos. Como
há um mercado maior, ele é mais aberto. As pessoas valorizam mais o seu
trabalho. Há menos burocracia. Os sites de Impressão sob Demanda funcionam muito
bem. Há menos “backstabbing”.
5- Dentre os seus jogos, você tem algum
favorito, por algum motivo? E sem ser seu próprio material, quais os seus RPGs
favoritos?
R: Hummm… Difícil dizer. Eu crio jogos
que eu quero muito jogar. Sempre que vejo as pessoas falando sobre criar jogos,
pensar no público alvo e moldar a experiência para o que eles querem eu penso
“nem pensar, o público alvo sou eu, e vou fazer o jogo que eu quero jogar!”. Se
alguém mais além de mim mesmo curtir, ótimo. Se não gostarem, azar, eu não fiz
para outras pessoas. Mas tem momentos e momentos. Como estou trabalhando na
versão nacional do Solar Blades & Cosmic Spells, estou vendo de criar
material novo, contratando artistas novos, estou meio que “apaixonado” por ele
de novo, querendo jogar mais e tal.
Já em relação a jogos de outras pessoas, eu tenho vários favoritos. O Dungeon Crawl Classics RPG, no entanto, acho que reina absoluto sobre os demais. Este jogo mudou totalmente minha visão sobre RPG, fantasia e literatura fantástica. Há ainda outros jogos dos quais sou fã, como o The One Ring, D&D B/X, Star Wars D6, Whitehack, Firefly RPG… É difícil citar todos, né?
Já em relação a jogos de outras pessoas, eu tenho vários favoritos. O Dungeon Crawl Classics RPG, no entanto, acho que reina absoluto sobre os demais. Este jogo mudou totalmente minha visão sobre RPG, fantasia e literatura fantástica. Há ainda outros jogos dos quais sou fã, como o The One Ring, D&D B/X, Star Wars D6, Whitehack, Firefly RPG… É difícil citar todos, né?
6- Dentre os game designers, quais você
mais admira e se inspira?
R: Pergunta complicada. Eu diria que o
pioneirismo e criatividade tanto do Gary Gygax como do Dave Arneson me inspiram
bastante. Lendo sobre a história do D&D eu vejo como eles eram extremamente
criativos, e as ideias deles estão vivas até hoje. Mesmo o D&D de 1974 está
tão vivo como um jogo lançado nesta semana. Isso é incrível. Mas em relação a
designers modernos, eu diria David Black, Matt Finch, Joseph Goodman, Harley
Stroh, Simon Washbourne, Kevin Crawford, Ben Milton.
7- Qual RPG você gostaria de ter
escrito?
R: Isso em relação a um RPG que já foi
escrito ou um RPG que eu gostaria que existisse e não existe ainda? Se for o
primeiro, eu diria que gostaria de ter escrito o DCC RPG. Se for o segundo,
acho que gostaria de escrever um RPG novo da Tartarugas Ninja.
8- Como você vê o atual momento do RPG
no Brasil? Você acredita que estamos passando por uma fase favorável para os
criadores?
R: Acho que, assim como no resto do
mundo, os jogos de mesa estão em um momento de recuperação legal. A nova edição
de D&D e a febre dos Board Games ajudou a levantar todo o mercado de RPG,
dando uma renovação no público e chamando muita gente de volta para o hobby.
Combinando isto tudo com as novas tecnologias, nunca foi tão fácil publicar o
seu próprio jogo, então acho que isso é bom.
No entanto, as coisas não estão tão
favoráveis assim. Divulgar um projeto independente em um mar de outros projetos
e editoras bem maiores é um desafio. A profissionalização do hobby, com blogs,
sites e canais do YouTube recebendo grana de editoras para promover o material
delas meio que fechou o caminho para criações mais independentes e que não tem
como pagar 3 mil reais para alguém jogar seu jogo na internet. As redes sociais
que antes permitiam que você alcançasse um público grande praticamente sem
custo, restringe seu alcance e exige que você pague para alcançar o público que
você já tem. Então eu diria que melhorou por um lado mas está complicado por
outro.
9- Você está trabalhando em algum
projeto novo? O que podemos esperar?
R: Sempre. Aprendi que trabalho
criativo é como ser um tubarão. Se você parar de nadar, vai morrer. Estou
trabalhando em várias coisas. Fazendo artes para outros criadores, escrevendo a
versão revisada do Espadas Afiadas & Feitiços Sinistros, traduzindo o Solar
Blades & Cosmic Spells, expandindo o Perdidos no Mundo da Fantasia para
transformar ele em um lindo livro ilustrado, começando a escrever um outro jogo
sobre Animais Adolescentes Mutantes Contra o Mal. Mas tenho que tentar me
concentrar no que tenho que entregar ainda.
10- Que dicas você daria para alguém
que está começando e quer publicar seu próprio material, seja aqui ou lá fora?
R: Comece pequeno. Uma aventura pequena.
Um jogo minimalista. Algo factível de se fazer em pouco tempo. Coloque metas
diárias de produção e bata nelas custe o que custar. Digite no banheiro. Perca
um capítulo do seu seriado favorito. Durma um pouco mais tarde ou acorde um
pouco mais cedo. Aos poucos você termina. Tendo uma criação pequena finalizada,
você percebe que pode mais e vai aumentando os próximos projetos.
11- Diogo, aqui o espaço está aberto
para você falar o que quiser: pode falar de seus jogos, sugestões,
críticas...se sentir a falta de alguma pergunta que queria responder, pode
colocar!
R: Gente, não se deixem influenciar
sobre o que os outros dizem sobre este ou aquele jogo, este ou aquele estilo de
jogo. Vão lá, joguem. Leiam. Experimentem tudo antes de decidir algo sem nem ao
menos conhecer as coisas. Infelizmente algumas pessoas levam o RPG quase como
uma disputa de vida ou morte e não é bem assim. Eu amos RPGs ditos Old School,
mas uma grande influência nos meus jogos são jogos narrativos também. Temos
coisas a aprender dos dois lados e, às vezes, os fãs de um ou de outro veem
aquele jogo diferente como a antítese de tudo que ele mais gosta. Isso não é
verdade. E criei, produzam coisas, compartilhem as aventuras que vocês criam,
os monstros, os personagens, as regras da casa. Sem vergonha. Sem medo. A
comunidade agradece e você pode aprender muito.
E, uma vez que o Diogo publica muita coisa direto em inglês, aqui o blog da editora que ele mantém. Em Inglês: Old Skulling
Opa! Valeu pelo apoio e carinho Tarcisio!
ResponderExcluirUm dos maiores Game Desingns do País... Realmente sua contribuição, é de uma relevância muito grande. Entrevista bacana Tarcísio.
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