terça-feira, 29 de outubro de 2019

Entrevista com Luciano Bastos, um exemplo de militância e Perseverança no meio!

Bom, galera, hoje apresento a vocês uma entrevista muito especial, com o grande Luciano Bastos.



O Luciano vem a muito tempo trabalhando com jogos, através de estudos acadêmicos, oficinas, criação, trabalhos pedagógicos em escolas, e até mesmo um canal muito bacana no youtube.
Aliás, foi justamente o canal do Luciano que anos atrás despertou em mim o desejo de voltar a pesquisar RPG, busca essa que resultou em tudo que temos hoje.

Bom, sem mais enrolação, segue aqui esse grande momento na história do nosso blog! Como sempre, sem edição nenhuma!

Olá, Luciano, tudo bem contigo?

Tudo tranquilo camarada! Na infinita correria de fim de ano, que você conhece, para entregar notas, corrigir testes, provas e trabalhos e entregar material do mestrado.

Desculpa a demora em enviar essas perguntas, também estou um pouco enrolado com a faculdade, mês de outubro/novembro é fogo!

Imagino! Sempre!

Cara, primeiramente gostaria de agradecer você; foi um vídeo seu em que você apresentava sua coleção de livros-jogos que despertou em mim o desejo de voltar a jogar RPG, em uma época em que fiquei quase 4 anos longe do hobby!
Vi a sua coleção e pensei: “Gente do céu, eu preciso disso aí!”

Nossa, que bacana! Fico muito feliz e ainda mais feliz por saber que contribuí de alguma forma! 

Aqui estão as perguntas, sinta-se livre para responder do jeito que quiser, e quando quiser!

Ok! Segue então!

1-Você tem trabalhado com oficinas/criação de jogos, jogos pedagógicos e temas relacionados...poderia nos contar um pouco mais sobre seu trabalho?

Sim. Iniciei a pesquisa em 2005. A partir daí fui apresentando palestras e falas em vários espaços como centros culturais, escolas, universidades e eventos, sempre sobre o RPG e o jogo na cultura.
A partir de 2013 me concentrei construir uma base conceitual mais concreta com um aprofundamento teórico auxiliado pela graduação. Terminei a faculdade em 2015 e iniciei um ciclo prático de utilização de jogos como ferramenta pedagógica (queria ter mais propriedade ao falar sobre a ação daquilo que eu apresentava em teoria). Passei a lecionar História e Filosofia para o ensino médio na escola em que trabalho até hoje.

Nesse ponto, quis aprofundar ainda mais a pesquisa na educação lúdica, foi então que comecei a procurar, na plataforma Lattes, orientadores para um possível mestrado. Descobri então o trabalho da Profa. Dra. Taís Silva, que lecionava e coordenava a pós-graduação stricto sensu no PPFEN Programa de Pós-graduação em Filosofia e Ensino do CEFET RJ, vi que em seu currículo existiam vários trabalhos relacionados ao jogo na educação, inclusive um curso de extensão com tema, Jogos e Filosofia, onde os alunos criavam seus próprios jogos educacionais. Apresentei então o esboço do meu projeto, fui aluno ouvinte, fiz o concurso para ingressar na instituição como aluno mestrando, e graças aos deuses dos Jogos, concluo o mestrado em breve.

 Sou membro do grupo de Pesquisa com fomento do CNPQ, Jogos Filosóficos, abordagens didáticas para o ensino de filosofia e sou colaborador do Curso de Extensão Filosofia e Jogos do CEFET RJ, também sou cocriador e co-organizador do Simpósio Fluminense de Jogos e Educação e Membro do Ludus Magistérium um grupo de pesquisa multitemático de jogos e educação que envolve pesquisadores de todo o país.

Por coincidência eu trabalhava em paralelo, meio período, em um gráfica chamada Power Image. Lá eu e o Dirtor Marcio Carneiro criaríamos a Startup The Game Maker, uma fábrica de jogos e editora que começou a fazer a produção e publicações de jogos de mesa (RPGs, Jogos de Tabuleiro e Wargames) através de uma plataforma on demand.

Bem... Juntando "alhos com bugalhos" o resultado não poderia ser outro. Hoje apresento uma oficina de nível acadêmico (em função da minha pesquisa) e técnico (por conta do conhecimento do mercado e das técnicas de produção de jogos) com teoria, vivência e prática na produção de jogos educacionais, muitas delas para Professores, Mestres e Doutores de diversas instituições de ensino como UERJ, UFF, Fiocruz, ISERJ, CEFET entre outras. Além disso, participo de ações em escolas levando os jogos comerciais e apresentando possibilidades e potencialidades dos jogos para fins educacionais ou recreacionais.

Tenho três jogos educacionais publicados em parceria com outros educadores e trabalho na produção de mais dois, além de um RPG comercial com previsão de lançamento para 2020.

2-Seus estudos acadêmicos são relacionados ao tema, Luciano?

Sim. Na minha pesquisa venho dialogando com filósofos da cultura, sociólogos, game designers, psicopedagogos entre outros pensadores e educadores, sempre com o tema dos jogos. Minha pesquisa hoje está concentrada na hermenêutica do jogo de RPG enquanto ferramenta para o ensino de filosofia, dadas as suas qualidades dialógicas e narrativas conceituais. Repensar o mundo através do ficcional, como diria Tolkien, é falar de coisas sérias através do fantástico. Pensadores como Walter Benjamin, Vygotsky, Huizinga, Caillois, Vial, Katie Sallen e Erick Zimmerman, Rodrigues, Pavão, me ajudam a criar contornos sobre a definição do que é o jogo a cultura do jogo e de suas possibilidades pedagógica.

3-Sentimos muita falta do seu canal! Alguma chance de termos vídeos do Luciano novamente?

Sim. Parei de fazer vídeo por cauda justamente dessa loucura da pesquisa do mestrado e do trabalho na The Game Maker. Em 2020 volto a fazer vídeos para o Dungeon 90.

4-Como foi que você conheceu o RPG?

Nossa, que viagem no tempo!
Sou natural da Bahia, vivi em Salvador até 1988. Entre 1987 e 1988 um colega de escola me apresentou o livro Aventuras Fantásticas: A Cidadela do Caos de Steve Jackson e Ian Livingstone da editora Verbo de Portugal, (o pai dele viajava para lá com certa frequência), fui fisgado na hora pelas ilustrações, pelo tema, pela possibilidade de enfrentar monstros mágicos, encontrar tesouros e conhecer outros mundos fantásticos.

Em 1988 me mudei para Santos em SP e entre 1989 e 1991 comecei a jogar AD&D (a 2° edição de AD&D em inglês tinha acabado ser lançada [players] e o Real tinha acabado de entrar em vigor no país, Santos era um dos maiores portos da América Latina. Bem, essa soma de fatores gerou uma enxurrada de importados nas livrarias) sei por intermédio de amigos e parentes e o registro documental que esse era um fenômeno nas grandes capitais também.

Em Santos existia a Banca do Paulinho (que iniciou muito marmanjo da minha geração na cidade) e dois "templos nerds" do RPG. Um era a ARPGS Associação de RPG de Santos (que alguns também chamavam de ASRPG Associação Santista de RPG) que ficava no bairro do Gonzaga e a loja Universo Paralelo que ficava no Embaré, Canal 5, nesses dois points fui "iniciado" em jogos como Warhammer Fantasy, Call of Cthulhu, Traveller, Pendragom, Earth Dawn, Shadowrun, Cyberpunk 2020, "MUITO(s) GURPS", AD&D, Vampiro Lobisomem, Everway, Amber, Battletech (MechWarrior), Immortal, Kult, vários Wargames, card games...

5-Quais jogos você mais curte atualmente? E qual o RPG que você mais jogou na vida?

Bem, eu soou um cara meio "do contra" que acredita realmente que RPG não tem data de validade. Não navego na onda do mercado, mas na minhas inspirações e curiosidades. Atualmente eu tenho relido e estudado publicações noventistas, principalmente o trabalho do Jonathan Tweet (Over The Edge, Everway, 13° Era, que considero um gênio visionário) e do John Wick (House of the Blooded), além de jogos indie que eu possa utilizar em sala de aula, a exemplo do BlueWay, The Forest, Este Corpo Mortal, A Bandeira do Elefante e da Arara.

Mas para não negar completamente esse mercado cheio de coisas incríveis que são publicadas hoje, recentemente comprei o Call of Cthulhu 7° edição, publicado pela Editora Neworder e estou apaixonado também. 

Coleciono material de COC de 1996 e essa edição está de tirar o fôlego, não só pela excelente qualidade de produção gráfica (conheço bem esse tipo de trabalho) como pela tradução e a própria estrutura didática de apresentação das regras, cenários e mitologia do jogo). Os jogos da Lampião Game Studio também figuram entre as compras mais recentes, como Arquivos Paranormais e Pesadelos Terríveis, gosto muito da sensibilidade e simplicidade do trabalho do Jorge Valpaços.

O RPG que eu mais joguei na vida foi o AD&D, disparado, foi o único RPG que mantive campanhas semanais por mais de 2 anos aqui no Rio de janeiro com meu primeiro grupo carioca. Tenho dezenas de livros, caixas e suplementos desse RPG.

6-Quais jogos você ainda não jogou, mas gostaria (não falo só de RPG, mas de jogos em geral)?

Bem. Eu costumo comprar tudo que sai de Call of Cthulhu ou do universo dos Mitos de Cthulhu (quadrinhos, livros, jogos de PC). Não se trata de consumismo é colecionismo mesmo, e apesar de ter as edições anteriores do board game Arkham Horror, eu ainda não joguei a ultima edição publicada no Brasil pela Galápagos e gostaria muito de conhecer.

Um jogo de RPG que eu quero muito, mas muito mesmo conhecer e jogar é o inacreditável Invisible Sun do Monte Cook. Eu particularmente não gosto dos jogos do Cook, mas esse está de parabéns, gostaria muito mesmo de jogar e conhecer um jogo com conceitos tão inovadores.
Outro RPG que eu gostaria de experimentar por sua causa Tarcísio é o Mythic, mas esse eu creio que consigo dar uma lida nessas férias, já comprei o PDF. :-D

Eu jogo também Wargames, e tive um relato de um amigo que me deixou muito curioso e louco para conhecer o SPECTRE: OPERATIONS da Spectre Miniatures, o jogo mistura narrativa e wargame nas regras e isso é fantástico e inovador para esse tipo de jogo, quero muito ter essa experiência, geralmente os Wargames são pesados, com regras e complicações diversas (com exceção dos jogos da Ganesha Games e o DBA), mas esse realmente chamou minha atenção.

7-Além do RPG e jogos em geral, em quais outras mídias você busca inspiração?

Hoje meu diálogo com os alunos em sala de aula me obriga, de forma muito prazerosa, a conhecer vários dispositivos culturais, isso inclui séries de TV, quadrinhos, musica, filmes e desenhos animados, além de jogos de PC e console. Mas pessoalmente prefiro temas fantásticos, sombrios e sobrenaturais (de comum já basta a vida!) tenho lido quadrinhos nacionais, visto séries intrigantes e maravilhosas como Penny Dreadful, Carnival Row, Deuses Americanos, Dirk Gently, Crônicas de Shanara (Li bastante coisa do Brooks) e na literatura Anne Rice - Merrick, Joe Hill - Estrada da Noite, além dos já citados RPGs noventistas. Tenho lido também muito material sobre Mitologia por causa dos meus RPGs.

8-Como você vê o momento atual do RPG no Brasil?

Incrível. É importante entender que passamos por uma das maiores recessões dos últimos 30 anos. Nesse contexto, vemos a abertura de dezenas de editoras, centenas de publicações - seja em plataformas digitais como a Dungeonist e a The Game Maker, opu nas prateleiras das lojas - vendendo jogos de RPG de todos os tipos, assim como financiamentos muito bem sucedidos como o do jogo Tormenta.

Em paralelo as redes de vendas online como a Amazon, permitem a aquisição de livros importados com valores bem razoáveis e a venda de PDFs  (antes um crime de pirataria), agora permite que toda uma nova geração de jogadores - literalmente - conheça jogos da épocas em que eles nem eram nascidos.  Isso e a revolução digital criada por programas de edição gráfica que permitiu que uma legião de escritores amadores publiquem suas idéias em formato digital com acabamento semi-profissional.

Minha única tristeza é que o ineditismo do RPG acabou. Na "era de ouro" ou "boom do RPG" no Brasil o impacto cultural do jogo foi maior, apesar de sua popularidade e disponibilidade serem menores, mas isso é papo para uma outra hora, quando falarmos da História do RPG...
Outro fenômeno que demonstra a proliferam a abrangência do hobby são os grupos de FaceBook sobre RPG, como o Solo RPG que você administra. Da ultima vez que fiz um mapeamento para divulgação do meu RPG, eram mais de 60 grupos de RPG no face no só no Brasil.
9- Uma curiosidade : Você ainda encontra tempo de jogar aquela sua coleção incrível de livros-jogos?
Sim. Tenho um ritual diário com a minha esposa de ler sempre alguma coisa, uma hora ou duas antes de dormir. Isso inclui essa batelada de coisa sobre a qual falo na entrevista. Hoje, por exemplo, estou jogando Exércitos da Morte  e já sei que vou jogar Fortaleza do Pesadelo em seguida. Trinta anos depois e os livros jogos Aventuras Fantásticas continuam a ser uma diversão e ótima maneira de passar o tempo! A Editora Jambô ainda contribui com novos livros da série que não haviam sido lançados em PT.

10- Vamos falar de música: você pode citar alguma banda que te faça lembrar de algum RPG? (por exemplo, SistersofMercy me faz lembrar de Vampiro a Máscara). Pode citar mais de um se quiser!

O som etéreo e mágico da World Music e da na Nova Era (nossa, muito década de 90!) me lembram Jogos sobre magia, ocultismo e mitologia como, Nephilin, Kult, Witchcraft, Era do Caos, Unknown Armies, ou seja, o som de Enya, Loreena McKennitt, Black Moors Night, Enigma, ERA, Deep Forest.

Já bandas como Nine Inch Nails, Mission UK, Killing Joke, Dead Can Dance, Philds of Nephilin, Gardem of Delight me lembram jogos como Vampiro, Wraith, Este Corpo Mortal, Over the Edge.

Cyberpunk, Shadowrun, Mago Ascensão, eram inspirados para mim pelo som do Filter, Prodigy, Chemical Brothers, Crystal Method, Lords of Acid, Cold Storage.

As referências são infinitas. Eu produzia CDs de trilha sonora para os jogos que eu narrava no Saia da Masmorra lá eu assinava como Luciano Tolkien, segue o link de alguns deles:




11- Aqui, Luciano, o espaço é todo seu, use do jeito que quiser: divulgue seu trabalho, ou deixe um recado, ou coloque uma receita de macarrão que vem sendo passada na família há séculos...befree, myfriend!

Queria agradecer pela oportunidade de falar um pouco sobre essa trajetória fantástica e de poder compartilhar contigo e com os leitores experiências e trabalhos.

Meu trabalho como designer de jogos educacionais pode ser conhecido a acessado e comprado no link:


Estou desenvolvendo dois jogos de RPG com temática sobrenatural e fantasia urbana. Um deles e o projeto Arché (esse demora ainda para sair) e o outro é o Órama RPG, um RPG de horror no Brasil contemporâneo mítico que utiliza cartas do Baralho Cigano ou Lenormand em vez de dados. Trata-se de um sistema qualitativo em vez de quantitativo inspirado por trabalhos como Everway, Castelo Falkenstein e Amber. Segue o link da página do Face para quem quiser conhecer:


E mais uma vez muito obrigado!

3 comentários:

  1. Obrigado pela oportunidade de falar um pouco da minha trajetória grande mestre! Abs!

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