sexta-feira, 27 de julho de 2018

Entrevista com Caio Romero, criador do Spectrum RPG


People, esses últimos dias nos brindaram com mais um jogo que apresenta regras para RPG solo: o RPG Spectrum, do Caio Romero. Mesmo sendo um jogo originalmente pensado para ser jogado em grupo, o autor criou regras interessantíssimas utilizando um baralho como apoio à criação de cenas e resoluções para o RPGista solitário!

Resolvi bater um papo com o Caio, super gente boa, que nos contou um pouco sobre sua criação, entre outras coisas!

Quem quiser conhecer o jogo, pode baixá-lo gratuitamente aqui: Spectrum RPG






Olá, Caio! É uma honra muito grande poder conversar contigo sobre esse jogo fantástico que

 você escreveu, o Spectrum. Gostaria de dizer que adorei o jogo e as mecânicas.

Vamos conversar um pouco sobre ele?


1- O tema de Spectrum é bem interessante! Como surgiu a ideia central do jogo?

Caio:  Opa, valeu, Tarcisio. Eu que agradeço pela chance de trocar uma ideia sobre o Spectrum. Até brinquei no grupo Indie RPG que tô me sentindo o "mendigo do feedback", haha, porque realmente quero saber o que a galera pensa do jogo. Bem, vamos lá. A ideia central do Spectrum surgiu da minha vontade de fazer um jogo de regras simples, que brincasse com algumas coisas da nossa realidade. Na real, eu queria escrever um jogo que eu gostaria de jogar, algo que fosse jogado em cenas, com partes e pitacos de criações dos jogadores, uma costura esquisita e bagunçada na ambientação. Um cenário estranho, de jogar pra ver o que acontece. A ideia central do jogo partiu dessa zona toda e do fato de querer fazer algo diferente, que fugisse os padrões dos jogos que conheço.

2- Quais RPGs você colocaria como inspiração para o Spectrum?

Caio: Tudo que li e joguei acaba me influenciando. Acho que não é uma influência direta, mas as mecânicas de Tales From The Loop (e quaisquer outros jogos em que se role dados de seis lados buscando "sucessos") se parecem em algum ponto com as rolagens de Spectrum. Agora, se for falar da temática, não consigo citar um RPG em si que tenha inspirado o Spectrum, porém (por mais que isso nem tenha passado pela minha cabeça durante a concepção do jogo) dá pra dizer que o cenário que Spectrum propõe acabou ficando com um quê de Dark Souls, tanto no ambiente sombrio de nox e nos tenebras, quanto nas várias mortes e desfragmentações nas lux (que dá até pra comparar com as fogueiras do Dark Souls).

3- Quais são seus RPGs favoritos?

Caio:  Essa é fácil. Eu jogo muita coisa que acaba sendo tratada como "lado b" do RPG. Pra citar, de cara, acho Wildlings sensacional pra introduzir gente nova no RPG. Curto muito Psi*Run, apesar de achar que é o tipo de jogo que precisa ser jogado com o grupo certo... ah, eu não consigo listar um RPG favorito, porque jogo MUITA coisa diferente. Dungeon World, com certeza, é um jogo que curto demais. Foi ele que me fez voltar a jogar RPG, que me reanimou no hobby. Tales From The Loop é outro que acho incrível (interpretar crianças é divertidíssimo). Por mais que jogue várias coisas, o grupo de D&D nunca morre. Mantemos sessões do Adventurers League (o jogo organizado) com certa frequência e sim, eu gosto muito da 5ª edição.



4- A versão atualizada do jogo possui regras para se jogar solo. Regras bastante consistentes e originais, que utiliza cartas de um baralho comum para auxiliar na geração de ideias. Como surgiu seu interesse pelo RPG solo, e quando foi que vc decidiu levar essa modalidade ao seu Spectrum?

Caio: Meu primeiro contato com jogos solo foi com a série "Eu, Detetive", ainda com 11 ou 12 anos. Depois foram os livros-jogos. Aí muita coisa aconteceu: faculdade, trabalho... aí voltei para o RPG e entrei na onda dos board games. De cara, comecei com um board game de D&D, The Legend of Drizzt. Ele foi seguido por vários outros board games, sempre com preferência para os que permitiam o jogo solo. Depois, lembro de ter jogado a HQ-jogo Captive (que é bem legal, por sinal). Recentemente, descobri o D100 Dungeon e, graças ao FVM (Concurso Faça Você Mesmo de Criação de Jogos) desse ano, descobri o grupo Solo RPG. Vou mentir não, até pouco tempo eu nem sabia que há tantas opções bacanas de RPG solo. Conheci vários e quando o Spectrum não passou da primeira fase do FVM, pensei: "caramba, eu vi o jogo rolando, sei que a ideia funciona... quero que os outros também percebam isso!". Foi o gás que me faltava pra materializar as ideias e expandir as regras. Como estou na vibe dos jogos solo, pensei que seria DEMAIS trazer essa modalidade para o Spectrum. Para que o "prisma virtual" ganhasse vida, tentei utilizar um baralho e não posso negar que bebi na fonte do Mythic. Testei a parada e fiquei muito empolgado porque, simplesmente, funciona! :D

5- O Spectrum também se diferencia por um layout totalmente diferenciado, e por um texto muitas vezes escrito em rimas. Como você chegou nesse formato?

Caio: Cara, eu tinha em mente que queria algo diferente. Queria muito que o jogo fosse uma experiência bacana desde a leitura. Sou formado em Letras e, independentemente do trampo, eu tô ligado que o meu lance é trabalhar com textos (tanto que sou redator publicitário há 5 anos). A ideia de fazer um RPG com textos rimados me empolgou. Tive certeza que esse era o caminho: as regras explicadas por uma "personagem" que está tentando prender a atenção de quem lê. Assim nasceu o elo, o código-fonte que faz as rimas. Eu sabia que a pegada era diferente, a proposta era fora do padrão de texto dos jogos que já vi, então acrescentei uma outra personagem, "o Prisma", que na verdade é "ela". Quem ler com muita atenção vai sacar que os textos brincam entre si e os textos no rodapé, principalmente, são bem sarcásticos às vezes. Aliás, eu tenho um problema pra lidar com sarcasmo. Eu acho que sei construir textos sarcásticos, mas tenho uma dificuldade do caramba pra sacar sarcasmo alheio de cara. Resolvi me desafiar e trabalhar bastante com essa ideia por meio de uma personagem. Talvez foi ingenuidade minha arriscar essa pegada diferentona, mas a versão de Spectrum que enviei para o FVM tinha apenas os textos dessas duas personagens explicando as regras. Na expansão, há a adição do capítulo "Arquivos infravermelhos" (que são as regras do ponto de vista de um spectrum) e do capítulo "Arquivos ultravioletas" (que apresenta os novos modos de jogo)

6- Qual o seu RPG solo favorito?

Caio: Ironsworn. Eu fico besta de ver como esse jogo é incrível. Ele foi um dos motivos de implementar os modos cooperativo não guiado e solo no Spectrum. Pra quem não conhece, Ironsworn é gratuito. A qualidade do material é extremamente profissional e recentemente o autor atualizou as regras e disponibilizou uma versão impressa pra compra. Quem curte a mecânica de movimentos de PbtA não pode deixar isso aqui passar. Sério, vai por mim.



7- Qual RPG você gostaria de jogar, mas ainda não teve a oportunidade? Por que você quer tanto joga-lo?

Caio: Ironsworn. Sim, a resposta de cima foi possível só pela leitura do livro. Aliás, devorei o material e, pra rimar, é sensacional. Shawn Tomkin fez um trabalho sem igual e tinha prometido uma atualização do jogo para esse mês. Eu estava esperando essa atualização sair pra poder mergulhar de vez na parada em si.

8- Você tem o projeto de escrever mais jogos? Quais os possíveis temas, gêneros e/ou cenários que você gostaria de abordar futuramente?

Caio: Depois da expansão de regras do Spectrum, andei jogando muito o D100 Dungeon e acabou me influenciando bastante. Vem coisa nova por aí: solo, caderno quadriculado, lápis e alguns dados. Sem detalhar muito, só pra dar uma dica, tive uma inspiração bacana com o Moonlighter, do Xbox One. Passei uma ideia para o papel e fiz os testes ontem. Agora tô digitalizando o texto e pretendo fazer umas ilustrações. Vou tentar deixar pronto o quanto antes. Preparem-se! :D

9- Qual jogo/RPG você gostaria de ter escrito?

Caio: Sei que vai ser repetitivo, mas... Ironsworn. Não adianta, é a bola da vez pra mim.

10- Qual pergunta que você gostaria que fizessem a você, e que ninguém nunca fez? (sinta-se livre para perguntar e responder aqui!)

Caio: Tarcisio, vou usar esse espaço final pra agradecer a você pela oportunidade e pelo papo sobre o Spectrum. Enfim, acho que isso é tudo. Deixa eu voltar pra outra aba agora e continuar o jogo novo! :D

Bom, Caio, é isso! 
Abração!

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