Olá, pessoal, tudo bem com vocês?
Hoje venho animadíssimo com mais uma grande entrevista. Dessa vez com a artista e criadora de jogos (e muitas outras coisas) Fernanda Bianchini.
A Fernanda tem a peculiaridade de fazer absolutamente tudo a que se propõe de forma competente. Atualmente a artista tem ilustrado diferentes materiais, mas tudo isso é discutido na entrevista a seguir.
Fernanda, você é uma pessoa muito ativa na comunidade do RPG solo em geral, tendo escrito jogos, feito ilustrações e até mesmo mantido um blog com gameplays. Poderia nos contar como foi que você conheceu o mundo dos RPGs em geral?
Engraçado que não me considero assim ativa na comunidade! ^.^" Me acho tão ausente, as vezes sumo por semanas. Mas enfim, essa não foi a pergunta. XD Descobri o RPG com uns... 12 anos, creio. Por volta do que, na minha época, era a sexta série do fundamental. Uma amiga deu um jeito de recriar um jogo de videogame dela (não lembro qual) para jogarmos com papel e dados. Depois disso conheci o Gurps, que um colega mestrou por quase um ano, se minha impressão de tempo estiver certa, e em seguida descobri Vampiro, A Máscara, que quase não joguei (não imaginava a opção de jogar solo), mas amava criar personagens e estórias pra eles. Daí por diante uma coisa puxa outra.
Você também é sempre citada e lembrada pelas suas incríveis ilustrações, tendo inclusive ilustrado um livro meu. Como foi que você começou a desenhar?
Não sei precisar quando comecei a desenhar, mas gosto muito desde criança, e cheguei a fazer um curso do estilo anime/mangá por volta dos meus 13 anos, minha época mais fissurada em animes. Mas sempre por diversão, por hobby. Só agora estou começando a fazer desse gosto uma profissão. Aos poucos, vamos ver no que dá! ^.^
Você tem algum método ou técnica recorrente para criar suas ilustrações?
Geralmente começo rascunhando no papel, depois levo pro digital. Mas, sinceramente, não. Minha técnica é o doce e perfeito caos. Qualquer dia vou começar colorindo e finalizar rascunhando! XD
Quais são os temas ou assuntos que você mais gosta de desenhar/ilustrar?
Gosto de Fantasia! Em especial criaturas e animais. E os tão polêmicos furries. -^.^-
Quais os seus materiais favoritos na hora de criar suas artes (lápis, giz, tipo de papel, arte digital, etc...)?
No momento estou entusiasmada em desenhar no tablet. É meu primeiro tablet e desenhar direto na tela era algo que há tempos eu assistia artistas fazendo em vídeos pela internet, mas eu não tinha condições financeiras. É tão estranhos e divertido! Mas o papel comum, lapiseira e caneta nanquim continuam sempre comigo. (Sim. Lapiseira. Chorem, colegas das artes que defendem que artista de verdade usa lápis apontado com estilete: LA-PI-SEIII-RA. Com grafite B de preferência X3) E pra colorir, lápis de cor comum.
Os RPGs que você escreveu tem a peculiaridade MUITO bacana de nunca focarem em combate e violência, mas sim em coisas como cooperação, ajuda e companheirismo. Isso é muito raro de se ver. Poderia contar um pouco sobre essa sua forma de abordar o RPG e histórias de maneira geral?
Claro! A coisa é simples: Enjoei.
Desde que me entendo por gente em TODOS os jogos que consigo resgatar na memória, o padrão era sempre o mesmo. Vai jogar Super Mario: mata os monstros até chegar no chefão, mata o chefão, venceu. Space Invaders, aquele do Atari, atira e mata os alienígenas. Vai jogar rpg com os amigos: "Escolham suas Armas", mata o goblin, mata a quimera, mata o Dragão. Ah, Dragões... acho que esse pode ter sido o primeiro gatilho. AMO dragões, não quero matá-los, não podemos conversar?
Até meu jogo favorito de computador, que é de Fazendinha (Stardew Valley), me obriga a matar as criaturas que moram nas minas, que estão lá no canto delas, sem fazer mal pra ninguém. Por quê???
Então resolvi procurar jogos diferentes, por que não é possível que matar, ferir, atacar, sejam as únicas possibilidades. E comecei a prestar mais atenção nas estórias que consumo também, como filmes, séries, livros, quadrinhos, etc.
A partir desse momento, notei que jogos sem violência não são tão fáceis de achar, e em geral são direcionados ao público infantil (ou só taxados como infantis mesmo). Então comecei modificando os rpgs com temática de batalha para se adaptarem ao que eu queria jogar. Peguei o seu T-Monsters GO e usei a mecânica do combate para meus monstros apostarem corridas, brincar de vôlei de praia e coisas assim. Peguei o Diário do Caçador, do Thiago Junges e fui jogar como um veterinário de monstros, que vai em busca de descobrir o que está incomodando o monstro, o que o fez atacar as pessoas, e curá-lo, ou realocá-lo, ou o que for, sem ferir.
Nessa busca por rpgs não violentos, encontrei alguns que me inspiraram muito: o seu rascunho de Senhores de Polares, que me tocou muito; o Lascas, do Cezar Capacle, que até chorei quando estava lendo; Amores da Vila do Caju, do Jorge Valpaços, que mais parece um abraço e colo do que um jogo, SMD (Serviços de Manutenção do Domo), também do Jorge Valpaços; Cartographe, da Campfire Estúdios; Apenas Um(a) Taverneiro(a), do Lucas Fowl; Escola de Magia e Feitiçaria de Talakan, seu; entre outros poucos.
E, claro, com seu incentivo constante de: quer jogar, e não achou? Crie! Criei o Larp (Sangue Feérico) para incentivar à mim mesma a prestar atenção nas coisas boas e sutis ao meu redor, e postei no grupo do Solo RPG, caso mais alguém quisesse experimentar. Criei um Dominus do meu querido jogo de fazendinha, só para ter o gosto de nunca precisar matar monstros nele. Outros Dominus amigáveis, como o Pequena Sereia e Jasmine, criei por que um colega do grupo comentou que a filha dele queria um jogo de princesa e ele não encontrou, e os Dominus Série de Época e Turning Red, por conta do filme de mesmo nome e da série Bridgerton.
Sigo nesse clima. Ainda acompanho gameplays do pessoal da comunidade, com espadas afiadas e cabeças rolando, mas quando pego meus dados rolo alternativas diferentes para resolver os conflitos. No momento estou escrevendo um joguinho de rpg solo/coop baseado no jogo digital Feel The Snow, chamado Contos de Neve, como uma meio que adaptação analógica onde não é preciso matar as criaturas para conseguir recursos. Quando estiver pronto, penso em colocar no Bazar Verde. E se conhecer algum rpg de proposta diferente dos clássicos do gênero fantasia, me avisa! Quero conhecer mais.
Quais são suas principais influências (nas artes e também no RPG)?
Essa pergunta é difícil de responder, pois muda constantemente. ^.^"
Hoje, no rpg, creio que o Studio Ghibli; Stardew Valley, de ConcernedApe; os rpgs que já citei; e o que vou observando em todo o material que consumo, mesmo nas gameplays violentas fico imaginando como faria diferente.
Em questão de desenho, hoje, não tenho nada que possa apontar, conscientemente, como uma influência principal, mas quando algum estilo me chama muito a atenção, puxo o caderno e rabisco tentando imitar os traços. Por exemplo, tenho rascunhos de Wolfwalkers e Song Of The Sea, da Cartoon Saloon, da animação Turning Red, da Pixar, entre tantos outros, e acredito que posso acabar incorporando alguma coisa nos meus desenhos, mesmo sem perceber, pois acredito que as influências funcionam assim nas artes.
Onde você busca inspiração para escrever ou desenhar algo?
Em tudo que estiver ao meu alcance: livros; histórias que ouvi por aí; quadrinhos; filmes; séries; artes alheias que passaram por mim no pinterest, no instagram, em murais na rua; músicas... De repente, alguma coisa pode acabar voltando à mente e gerando alguma ideia para uma estória ou ilustração.
História engraçada: uma amiga me apresentou uma música que ela achou que eu iria gostar e na época eu não estava no clima e acabei não dando muita atenção. Anos depois "redescobri" a tal música e viciei tanto nela que fiz toda uma jogatina de rpg solo usando a letra e a história da música. Fui toda empolgada mostrar como se fosse uma grande novidade e ela me lembrou que já tinha me apresentado àquela música fazia muuuito tempo.
Em quais projetos você está envolvida atualmente?
Tenho um rpgzinho em produção há um tempo, que já até postei algumas playtests no grupo, mas ainda não finalizei, o tal do Contos de Neve.
Fiz artes para o rpg Velhas Histórias Ao Redor Dos Vagalumes, do P.J.Acácio.
Há um projeto de rpg com um grupinho brabo (segredo).
Meu portfólio de arte que, enfim, dei início (valeu o empurrão Acácio!), mas falta alimentá-lo.
E o seu projeto, de T-Monster GO, cuja arte já entreguei, mas ainda me sinto parte e ele está em andamento.
Além de tudo que foi falado aqui, quais outros assuntos despertam o seu interesse?
Uhm... felinos, livros, cafeterias. XD Pergunta difícil!
Agora poderia citar um filme, seriado, banda ou livro que você recomendaria que TODO mundo conhecesse.
Só um?! Eita. Ok! Vou recomendar um filme que achei simplesmente fantástico: Kimi no Na wa (ou Your Name, como chegou pra cá). Não darei resenha pois, se tiver a oportunidade, assista sem saber o que te espera e confia que é muito bom!!!
E agora nessa última pergunta, temos algo que não é uma pergunta!kkkkkkkkk! O espaço aqui é livre para você falar o que quiser, agradecer, xingar, dar dicas ou até mesmo responder algo que não foi perguntado mas que você gostaria muito de falar.
Arte, RPG, Livros, Filmes, Quadrinhos, Séries, Músicas... Tudo é uma tentativa de colocar um sentimento no mundo. Eu gostaria muito que a humanidade notasse, sentisse, imaginasse e com isso, todos, TODOS, pudessem desenvolver Empatia. Acredito que a empatia pode prevenir e resolver muitos problemas entre nós humanos e, por consequência, muitos problemas que estão à nossa volta. Nos últimos anos, me parece, muita empatia se perdeu. Desejo que ela ressurja. E se com um desenho ou um joguinho eu puder despertar a mínima fagulha de empatia em alguém, todo o trabalho valeu a pena.
Agradeço muito, Tarcísio, pelo espaço e pelos incentivos que você me deu pra postar os desenhos, compartilhar os jogos e as jogatinas. E por ter criado o grupo acolhedor que é o Solo RPG, onde, enfim, senti segurança para expor meu material. E eu não fui a única. Continue assim! Você está mudando o mundo pra melhor.
Ótima entrevista, perguntas interessantes e respostas intrigantes... Pelo menos para mim!
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