quinta-feira, 28 de abril de 2022

Publicando de forma independente - Reflexões

 "A galera precisa entender que as editoras não são a única solução ou salvação"

- Eduardo Spohr


Há cerca de 6 anos comecei a publicar material de forma independente, sendo que nos últimos 2 anos comecei a fazer isso comercialmente. 

Hoje em dia tenho mais de 30 títulos lançados, sendo 4 deles também lançados lá fora. Ainda que não seja muito, minha produção ajuda a pagar algumas contas aqui em casa.

Também tenho 2 projetos musicais independentes, que funcionam de forma muito parecida.


A mudança de Paradigma


A primeira coisa é dizer que eu não tenho nada contra editoras oficiais. Na verdade, tenho inclusive trabalhos publicados em algumas delas, e o trabalho que elas cumprem é importantíssimo.

Só quero deixar claro que o cenário editorial hoje é extremamente diferente de como ele era 15 anos atrás, e ABSURDAMENTE diferente do que tínhamos 30 anos no passado.

Durante muito tempo, a única forma que as pessoas concebiam de publicar um livro era por meio de uma Editora. Existia logicamente um mercado de produção independente, mas era muito pequeno (comparado a hoje) e que por falta de meios de divulgação de longo alcance ficavam restritos a pequenos nichos, e geralmente em grandes centros.

A pessoa que escrevia seu livro dentro de um sítio no interior de Goiás, por exemplo, tinha pouquíssimas chances de divulgar seu material se não fosse por meio de uma editora.

Hoje tudo mudou. A internet, os marketplaces digitais, as redes sociais permitiram que todo mundo que tenha ao menos um celular (eu mesmo não uso computador em momento algum da minha produção) e sinal de internet  coloque seu material em várias vitrines com um clique, e sem pagar nada por isso.

Ainda existe uma certa resistência de algumas pessoas que consideram que um trabalho publicado por uma editora é SEMPRE de uma qualidade maior, mas qualquer pessoa que REALMENTE acompanha o mercado independente e lê de VERDADE o que a galera tem escrito sabe que isso não é verdade.

Também existe uma parcela ainda muito apegada ao livro físico, e a maior parte da produção independente se faz (ou ao menos começa) no formato digital.

Claro que os livros físicos nunca vão desaparecer nem perder seu charme e seu valor. Mas goste você ou não, o fato é: livros digitais vão se tornar cada vez mais frequentes e comuns. O aumento dos custos de produção de livros físicos tem sido um problema enfrentado por editoras não apenas do Brasil, mas também por TODA a Europa, entre outros países. Mesmo editoras enormes e tradicionais em algum momento vão investir no mercado digital, cada vez mais.

Então deixem de lado o preconceito, e aceitem o que é um futuro inescapável.


Vantagens

Publicar de forma independente tem muitas vantagens. Aqui algumas que considero importantes:

- Facilidade: é muito mais fácil aprender a editar, diagramar e lançar de forma independente do que conseguir um contrato de publicação com uma editora. Aprender essas coisas depende só da gente (desde que tenhamos acesso a coisas básicas, que TODO mundo deveria ter direito), ao passo que ser aceito por uma editora depende de muitos fatores externos, e de uma boa dose de sorte.

- Liberdade: publicar de forma independente te dá uma liberdade de criação que você jamais terá em uma editora. Não se esqueça nunca que toda editora é antes de tudo uma empresa, o lucro sempre virá em primeiro lugar. Algo pode ser maravilhoso, mas se o editor achar que não será bem recebido pelo público padrão da editora,vai ser limado sem dó.

- Controle: Quando você lança por meio de uma editora, quase sempre você tem que deixar de lado uma parte do controle sobre aquilo. Por exemplo, se você lança um Módulo Básico de um RPG por meio de uma editora profissional, dificilmente você poderá lançar Suplementos de forma comercial se não for através da editora que publicou o RPG. E se o RPG não ir bem nas vendas, e dependendo do tipo de contrato, você verá uma criação sua "estagnada" e sem a possibilidade de se expandir, por questões contratuais. Quando você pública de forma independente, você mantém 100% do controle.

- Lucro: Verdade é que escrever livros de maneira geral nunca foi algo muito rentável em nossa país, salvo exceções e prodígios. O Brasil é um país onde a população lê muito pouco e gasta muito pouco em livros. Ao publicar através de uma editora, você precisa entender que a maior parte das vendas fica para a própria editora, que precisa pagar os gastos de marketing, gráfica, revisão, diagramação, e outros profissionais envolvidos. Não teria como ser diferente. Sobra uma pequena parcela para o autor. E a menos que o livro tenha vendas muito significativas, o que não é o mais comum de acontecer, o que um autor ganha concretamente será pouco.

De forma independente, você terá uma maior participação nos lucros. Logicamente você ainda precisa pagar todo mundo que esteve envolvido.


Desvantagens

Nem só de glória vive o escritor independente. Existem desvantagens. Vejamos algumas:

- Acúmulo de função e excesso de trabalho: geralmente o autor independente acaba acumulando muitas funções que em uma editora seria feita por profissionais diferentes. Eu mesmo além de escrever o texto, faço a diagramação, revisão, as artes, o trabalho de marketing, vendas e de envio. É desgastante. É muito, muito trabalho, principalmente se você quer ter uma produção constante. Eu lanço de 3 a 5 materiais por mês, e as vezes é um inferno dar conta de tudo. Outra coisa é que é humanamente impossível desempenhar todas essas tarefas com a mesma competência que um profissional da área faria.

- Exposição: lançar de forma independente quer dizer que você vai ter que fazer as pessoas levarem em consideração o que você lança de alguma forma. Enquanto uma editora tem todo um catálogo e muito possivelmente o respeito de todo um mercado, ao publicar de forma independente você tem só o seu nome e o seu material. O começo vai ser bem difícil chamar alguma atenção. E daí pra frente, sempre parece que você está no começo.


É isso, por enquanto....

3 comentários:

  1. O mercado independente é de certa forma mais vantajoso quando de tem um público elevado e um dominio na área de atuação. Mesmo sendo simples eu gostei desse artigo!

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  2. Parabéns mestre, você certamente é um exemplo nessa área. Não apenas fala e incentiva mas efetivamente FAZ. Quadrinho, pintura, música, livros, zines, RPGs, boardgames, e mais!

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  3. Espero que esse texto incentive demais a galera criar e fazer os jogos e livros de literaturas e contos de forma independente, pois só com isso devem ter uma visão básica de como é caótico ser autor e depender de editoras.

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