People, hoje apresento uma entrevista que fiz com Marcelo Grisa, um cara que passeia por várias midias e que eu acompanho o trabalho a muito tempo.
O Grisa não sabe, mas em uma época em que eu viajava para outra cidade todos os dias para trabalhar, ia ouvindo o Podcast Por Trás da Máscara, do qual ele era um dos responsáveis. Até hoje é provavelmente meu podcast favorito.
Aqui converso com ele sobre livros, projetos, e claro: RPG.
Segue nossa conversa, como sempre, sem corte ou edição!
...
Olá, Grisa, desculpa a demora!
Fim de semestre na faculdade – estou no terceiro ano de
Letras – e no trabalho também. Some a
isso meu autismo leve, e o que temos é uma mente caótica e dispersa!kkkkkkkkk
Primeiro, cara, vou falar sim: acompanho seu trabalho há
muito tempo. Em uma época em que eu passava 4 horas por dia dentro de um
ônibus, eram as leituras do Tubo de Explosão e o Por trás da Mascara que
aliviavam a barra! Muito obrigado mesmo!
Seguem as perguntas, sinta-se livre para responder do jeito
que quiser mesmo, com textos enormes ou respostas monossilábicas. Se alguma
pergunta não fizer sentido para você, simplesmente ignore, ou responda com uma
receita de bolo ou salgadinho.
Aí vai:
1- Grisa, para aquelas pessoas que acompanham meu blog e não te conhecem,
como você se apresentaria? Fale um pouquinho, please!
Bem, eu sou o Grisa, porque Marcelo ninguém lembra mesmo. Sou
jornalista, atualmente trabalho como diagramador em um jornal aqui no Rio
Grande do Sul. Sou um produtor de conteúdo que anda meio parado ultimamente,
porque a pandemia meio que me travou e o trabalho anda consumindo bastante do
meu tempo.
Eu tenho um outro blog atualmente, o Sucinto Prolixo
(sucintoprolixo.wordpress.com). O Tubo de Explosão foi descontinuado por alguns
motivos: custos, ser uma marca que na real não é minha, apesar de me orgulhar
muito... E porque eu parei um pouco de ser um cara que curte só quadrinhos. Em
2013 em diante eu lia demais, eu me dediquei ao Tubo como inicialmente um
projeto de final de curso, e isso virou algo maior. Hoje eu estou voltando pro
RPG, pros games, pra literatura, que foram coisas que nesse período ficaram
mais distantes. Resolvi ser mais diverso, e o Tubo não combina mais com quem eu
sou. Serei eternamente grato.
2- Cara, você é um produtor de conteúdo mega multifacetado...trabalha com
diagramação, quadrinhos, podcasts, literatura, educação...quando foi que você
descobriu essa sua habilidade de fazer tanta coisa diferente?
Não é que eu tenha descoberto exatamente. Me interessava
demais em design de páginas e tal, mas nunca fui bom desenhista. Na minha
formação enquanto jornalista, eu sabia que precisava fazer mais cursos,
aprender mais do que a graduação poderia me oferecer, já que é um tanto
desafiador sobreviver no Brasil vivendo disso naquela época – hoje, mais ainda.
Então fui ser diagramador, o que pude fazer ainda lá na faculdade, e hoje posso
exercer isso profissionalmente, é um diferencial. Os quadrinhos vieram quando
eu estava em uma disciplina do final do meu curso que se chamava Jornalismo
Multimeios. Era pra montar um projeto multiplataforma de alguma forma. Eu já
queria lançar um blog sobre quadrinhos, e tinha um projeto pronto com uns
amigos de Teresina, a quem sempre agradeço pela criação do site. Ele estava
pronto, mas eles não tinham tempo para se dedicarem à época. Pedi autorização,
e o resto é história. O Tubo de Explosão me permitiu chegar ao resto. Não foi
planejado, e eu ainda aprendo muito a cada novo projeto, porque por acaso vem
surgindo coisas que são diferentes a cada vez, e não continuidades. E tudo bem
ser assim.
3- Você escreveu um livro muito interessante chamado “Por trás dos
Quadrinhos: Um estudo sobre a Metaficção em Homem-Animal”...o que encontraremos
nesse livro, e como foi o processo de criação desse texto?
Por Trás dos Quadrinhos é um livro que fala sobre como o
Grant Morrison usa argumentos de fora da ficção para contar a história do
Homem-Animal, que ele escreveu entre 1988 e 1990. Ele não só fala muito sobre a
proteção dos animais, já que ele estava engajado nessa luta naquele momento,
mas também fala sobre o quê os quadrinhos estavam se tornando no final dos anos
80 por conta de obras como Watchmen e O Cavaleiro das Trevas. Obras que,
ironicamente, contribuíram para ele ser encontrado e contratado pela DC Comics.
É um livro acadêmico, que escrevi primeiro como trabalho de conclusão de curso
para o curso de Comunicação Social – Jornalismo da Unisinos, onde tive o prazer
de estudar. Depois tive o apoio da professora Adriana Amaral para lançar esse
livro lá na Marca de Fantasia, uma editora que é vinculada à UFPB. A capa é do
Marcio Fiorito com cores do Diego Bachini.
4- Grisa, se não tiver problemas, gostaria que você contasse a sua
experiência no podcast Por trás da Máscara (provavelmente o podcast que mais
escutei na vida)?
Eu comecei isso tudo de fazer conteúdo ouvindo o PTdM e o
ComicPod. Ambos partes muito distintas entre si em termos de conteúdo. Mesmo
antes de ir pro Terra Zero, eu já conversava muito com o Marcelo Ferrari e com
o Fiorito. Eles me deram muita força pra seguir adiante.
Anos depois, o Ferrari me chamou pra participar uma vez. Duas
vezes. Quando, numa época, saí um tempo do Terra Zero, ele me convidou pra ser
membro permanente. Demorei um tempo pra recomeçar, mas fui. Foi ótimo. Hoje as
coisas tão meio paradas, mas não tem como não lembrar com carinho de cada
episódio. Os que eu ouvi e os que gravei.
5- Sem ser as coisas com as quais você trabalha, quais seus outros
interesses e hobbies?
Eu sou muito tarado por RPG eletrônico, estratégia e jogos de
luta. Voltei a jogar Pokémon nos jogos clássicos de Nintendo DS por ser fã do
gênero Nuzlocke, queria aprender mesmo a jogar assim. Sou muita fã de
Civilization, tenho umas 1500 horas juntando as versões que tenho na Steam. Já
até fiz stream de Street Fighter V uma época. Mas ainda prefiro os de
estratégia em turnos como Disgaea (o que me dá muitas risadas, é super
divertido) e Final Fantasy Tactics (que nunca zerei, mas comecei um zilhão de
vezes, ainda preciso adaptar em RPG aquele sistema de classes e movimentação).
Leio bastante, entre quadrinhos e livros. No último ano,
estou entre os livros sobre magia do caos, numa onda bem espiritualizada, e os
manuais de escrita. Recomendo especialmente Escrever Ficção, do Luis Antônio de
Assis Brasil, e Sobre a Escrita, do Stephen King no segundo grupo.
6- Recentemente, você disse que havia retornado ao universo dos RPGs...o que
tem jogado atualmente?
Eu tenho uma mesa de Tormenta20 que estou tentando retornar,
já que estou em emprego novo desde janeiro, o que mudou muito a minha rotina.
Fora isso peguei o NoteQuest do Tiago Junges para fazer um dungeon crawling
maroto e tenho me exercitado na literatura jogando All We Love We Leave Behind,
um jogo muito legal no estilo de escrita de cartas.
7- Você tem vontade de escrever alguma coisa – um livro, um sistema, um site
– abordando majoritariamente o RPG? Seria incrível!
Eu tenho um projeto de cenário que tá na gaveta tem uns 10
anos, com muita coisa escrita no meu PC. Além disso, uma série de livros que
ainda quero escrever que tem muito a ver com RPG clássico e também com animes
como Digimon e filmes como A Origem. Tem a adaptação de algumas coisas que
ainda preciso fazer – coisas que até já vi adaptadas pra sistemas como
3D&T, mas queria fazer algo mais meu. Quem sabe um dia faço um jogo por
semana quem nem o amigo, hehehe!
8- Quais projetos você está trabalhando atualmente?
Hoje estou escrevendo um roteiro de quadrinhos pro coletivo
Sarjeta, que a gente em breve vai lançar Catarse. Queremos tudo pronto antes,
mas o que posso dizer é que serão várias histórias a cada edição, com uma
continuidade – como um mix da Panini, mas sem as histórias serem eternas que
nem as de super-herois.
Também devo ter pelo menos mais um conto saindo na Dragão
Brasil este ano. Como da primeira vez, também co-escrito com o Davide di
Benedetto, a quem tenho o orgulho de chamar de parceiro e amigo.
9- Qual “personalidade” do mundo nerd (escritor, produtor, diretor,
cineasta, ator...) você gostaria de conhecer e bater um papo?
Eu ainda queria bater um papo com o Grant Morrison sobre
magia do caos, quadrinhos e a cultura pop. Muito, demais. Eu morreria feliz se
pudesse ter esse papo.
10- Agora uma pergunta mais pessoal. Eu tenho a impressão que o meio nerd
nacional é um meio extremamente tóxico, preconceituoso, machista...e todo mês
acontece alguma coisa demonstrando algo assim. Você também tem essa impressão?
Em caso afirmativo, como podemos “lutar contra” esses movimentos retrógrados
que vemos por aí em nosso meio?
O mundo todo é assim mesmo, não só o meio nerd. A gente está
vivendo uma coisa de crucificar o nerd, mas ele é só o mais suscetível à
propaganda de extrema-direita porque ele era e ainda é excluído socialmente em
grupos mais novos. Adolescente quer ser forte, quer ser foda, e até consume
filme da Marvel e etc, mas o bully ainda tá lá zoando o cara que se dedica
forte. Eu dava aula pra adolescentes ano passado e 2019, vi isso ocorrer em
sala de aula. O que acontece é que essas pessoas estão mais sozinhas. Vão pro
online e lá acham alguém que diz que há uma versão da realidade que lhes dá
razão.
Mas não é como se no meio universitário de esquerda não tivesse
macho escroto, transfóbicos, racistas. Eles só estão sendo mais expostos e
combatidos no meio nerd. Isso eu acho que é positivo, na verdade. Faz com que
as pessoas comecem a perceber que ações têm consequências nos espaços sociais
que elas frequentam, mesmo se não houver repercussão legal. Ninguém é obrigado
a gostar de você por você gostar de algo, ainda mais se você é escroto.
Agora, só isso não é suficiente enquanto luta. Acho que o
importante é botar o dedo na cara sim, mas deixando espaço suficiente para que,
com o tempo e com esforço, essa pessoa mostre que melhorou. Só cancelar e
pronto não é resposta, porque joga eles no colo de nazistas. É assim que temos
esse bando de incel pela internet, por exemplo. Eles falam só entre eles, se
legitimam e pronto! Não precisam do resto do meio para, por exemplo, ter uma
vivência nas redes sociais.
11- Bom, Grisa, fica aqui o espaço para você falar o que quiser. E quando
digo O QUE QUISER, é o QUE QUISER MESMO:
Eu queria dizer que fazer conteúdo é difícil pra caralho.
Desculpa o linguajar, mas é verdade. Eu tenho passado MUITO perrengue nos
últimos anos pra produzir. É uma luta diária. É uma vontade de largar tudo. Não
escrevo mais sobre quadrinhos, por exemplo. Não tenho vontade. E por mais que
eu tenha produzido coisas nos últimos anos, tem sido bem mais difícil,
precisando de muito mais tempo do que gostaria para cada projeto. Estamos em um
país que, neste momento, quer que muitos de nós morram. É difícil viver com
esse sentimento perene, quanto mais produzir em um nível aceitável.
Por isso que eu curto, recomendo e admiro trabalhos atuais
como os teus, Tarcísio. Tu não esmorece um minuto, e eu estou trabalhando pra
ser mais resiliente para poder ser e continuar assim. Tu merece todo o
reconhecimento da galera.
Muito obrigado mesmo, cara! Espero que essa seja apenas a
primeira entrevista de muitas