terça-feira, 18 de abril de 2023

Entrevista: S. Malizia (Escritora)

Bom pessoal, hoje nosso blog tem a honra de bater um papo com a autora S. Malizia, uma escritora que eu recomendo fortemente vocês conhecerem e acompanharem.

Essa entrevista foi realizada uns 2 meses atrás, mas um bug no blogger acabou impedindo...mas agora está tudo ok.

Malizia deu respostas muito completas e muito interessantes, que podem inclusive esclarecer muitas dúvidas para quem quer começar a publicar.

Vamos lá!

1-Primeiramente, vamos começar com o básico: como você se apresentaria para alguém que está conhecendo você e seu trabalho de escrita pela primeira vez?

Eu diria o seguinte: comece qualquer leitura minha com a mente aberta e não procure padrões para me inserir.

Uma criação literária é sempre um novo mundo a ser desbravado, então vá na fé, guarde os preconceitos no fundo da gaveta e aproveite o momento.

2-Voce poderia falar um pouquinho para nós sobre seu livro ““Arsayalalyur – Ponte de Luz”? Sobre o que é a história? Onde podemos adquirir a obra?

“Arsayalalyur – Ponte de Luz” é meu primeiro romance e o que mais me exigiu coragem. Era um daqueles escritos fadados a terminar os dias sem encontrar a luz dos olhos de um leitor, mas como a vida segue caminhos misteriosos, acabou publicado.

Arsayalalyur, que significa “Uriel” em um dialeto etíope chamado Ge’ez, é uma história, sobretudo a respeito de livre-arbítrio e de como lidamos com as consequências. Isso tudo mascarado em uma narrativa um tanto “Dark Fantasy”.

Ali, você vai encontrar Uriel, arcanjo que após discordar de uma ordem recebida do Pai, empreende uma trajetória própria, como um anti-heroi, em busca de seu destino, algo que ele houvesse escolhido, de fato.

Com isso, ele desce à Terra, impactando e alterando a ordem dos acontecimentos na vida de uma jovem suicida e atraindo para si, batalhas incertas, mortais, experimentando a humanidade e entrando em contato com realidades sociais comumente esquecidas e deuses depostos pelo cristianismo.

O livro pode ser adquirido através da Amazon, em formato digital e em formato físico, comigo, através das mídias sociais.

 

3- O que além de literatura você tem como inspiração para criar suas histórias? Músicas, filmes...

Músicas são componentes importantes em meu processo criativo; sou capaz de visualizar cenas inteiras a partir de uma faixa.

Até abri um canal no YouTube onde há uma playlist para cada personagem, como uma assinatura musical. Faço isso como uma forma de driblar a procrastinação ao mesmo tempo em que procrastino. É uma tática.

Como inspiração também observo muito, escuto as histórias desconexas em uma ligação dentro de um ônibus lotado, estou sempre atenta às formas, ao que nos torna humanos, já que o escritor deve saber criar essa ilusão do “estar vivo” em seus personagens, pois é o que cativa (ao menos a mim).

 

4- Muitas pessoas que acompanham nosso blog tem o desejo de escreverem contos e lançarem livros...que conselhos você daria a elas?

O primeiro conselho que dou ao aspirante a escritor é que leia muito e de tudo, para que, com a prática, possa separar o joio do trigo e, essencialmente para que desenvolva o senso crítico e maturidade literária.

Vivemos em um momento em que somos bombardeados por informação e disso surge uma imensa mitificação sobre todos os assuntos. Por isso, a leitura hoje é tão importante, principalmente depois que o hábito de ler passou de atividade de fruição individual para atividade planejada para engajar popularidade em mídias sociais.

De início, soa como algo bom, mas é como uma faca de dois gumes: se não podem te controlar negando o conhecimento, como a Igreja costumava fazer durante a Era Medieval, como a ditadura militar fazia no Brasil, quem sabe não te estejam controlando ao te afogar em informações advindas de fontes duvidosas? Haja visto o fenômeno das Fake News, intensificado nas campanhas políticas de 2018 até agora, tanto aqui como nos EUA.

Daí eu retomo o ponto sobre a leitura ser um ato por si. De que se aprenda a gostar de ler por gostar de ler e não  visando a obtenção de outra  coisa que não o completo aproveitamento da atividade.

O segundo conselho é: escreva para contentar a si mesmo, não para corresponder ao que esperam que você escreva, o que outro autor já escreveu ou o que está na moda.

Isso é um tiro no pé desmotivador,  especialmente quando você percebe como funciona o mercado literário que, infelizmente, é um mercado como qualquer outro, então cuidado com as armadilhas, especialmente as engendradas pelo ego.

Mas não se preocupe, tudo isso é sanado seguindo à risca o primeiro conselho. A partir dali, a magia acontece por si.

 

5- Qual a parte mais bacana de ser escritora? E qual a parte mais desafiadora?

Não há parte bacana em ser escritora exceto, talvez, que você vá gastar menos com psicólogo/psiquiatra, se for o caso, já que boa parte da revolta, frustração, ódio, vai para o papel. Escrita e catarse são temas intrínsecos.

Brincadeiras à parte, não sou tão radical.

A melhor parte é a sensação após uma obra concluída, seja conto ou romance.

Uma parte que gosto também são os eventos literários, onde encontro pessoas para pentelhar, digo, conversar, a respeito das obras.

O maior desafio é o silêncio, quando não te dizem nem que sim, nem que não.

O caminho do livro é o leitor e se, de alguma forma, essa parte não funciona, é muito triste e a vontade de desistir prevalece.

 

6- A versão final de suas histórias e capítulos costuma ser muito diferente das ideias iniciais que você tem? Durante o processo de escrita, você altera muitas coisas ao revisar seu próprio material?

Na verdade, não. Quando escrevo os rascunhos já os modelo e acaba que a forma final é bastante semelhante a estrutura original. Sou muito atenta a grafia e o modo de expor as ideias, isso sim eu costumo alterar nas revisões.

 

7- Você poderia citar algumas autoras/autores ou obras que influenciam sua escrita?

Essa é uma pergunta complexa, pois há muitos autores e obras que eu gostaria de citar. No entanto, para encurtar, vou selecionar apenas algumas:

De Neil Gaiman, Fumaça e Espelhos, especificamente o conto “Mistérios de Assassinato” que foi de grande ajuda na hora de me basear quando criava seres angélicos e de como apresentá-los na literatura.

O Evangelho segundo Jesus Cristo, de José Saramago – adoro o Saramago – pelos mesmos motivos. A maneira como ele desce os personagens bíblicos de seu pedestal e os torna mais próximos a nós.

A duologia “A queda de Atlântida”, por Marion Zimmer Bradley, que deu a nota sombria aos protagonistas de “Arsayalalyur”.No fundo, acho que eu os imaginava no início, como a acólita Domaris e o príncipe atlante Micon de Ahtarrath.

“O Servo dos Ossos”, de Anne Rice, pela maestria com que ela desenvolve os personagens e os torna complexos. Eu tenho uma regra interna para personagens que é: Nunca deixe que suas personalidades sejam rasas como pires. Seres humanos não são assim.

A série “Fronteiras do Universo”, de Phillip Pullman, pela maneira com que ele transubstancia temas complicados em material fantástico e envolvente.

H.P.Lovecraft, especificamente o romance “O Caso de Charles Dexter Ward”, mas tenham em mente que, como inspiração, eu foco no que há de melhor em cada narrativa.

 

8- Essa aqui é meio que uma continuação da pergunta anterior: qual obra já foi escrita que VOCÊ gostaria de ter sido a autora?

Olha, eu sou muito indecisa, então essa é um resposta que muda conforme o meu humor.

No momento, eu gostaria de ter escrito o livro-enigma “A mandíbula de Caim”, de Edward Powys Matters.

 

9- Quais são seus próximos planos literários e lançamentos?

Tenho planos de escrever a continuação de Arsayalalyur, que na verdade será uma prequela.

O romance, que já está em fase final se chama “Psychomachia” e não é proposital que tenham esses nomes ruins de pronunciar.

Assim que publiquei Arsayalalyur, me veio à cabeça terminar uma história de vampiros que comecei quando era pré-adolescente,  super influenciada pela Anne Rice.

Ocorreu que essa história se encontrou com teorias formadas a partir da leitura da trilogia do Sprawl, de William Gibson, especialmente o Neuromancer e Count Zero, mais o Realidades Adaptadas de Philip Dick, resultando em uma drástica mudança nos planos originais.

Eu não queria somente escrever minha história de vampiros, eu queria questionar o porquê de cada dia da minha existência se parecer com uma espécie de castigo orquestrado por roteiristas sádicos, como numa versão de terror com baixo orçamento de “O show de Truman”. Muitas vezes eu escuto as risadas, quando cai a quarta parede.

Foi então que eu sonhei com esta palavra: “Psychomachia”.

 A partir daí, encontrei o poeta latino Prudêncio e seu livro original, onde uma batalha entre vícios e  virtudes ocorre dentro da cabeça do personagem bíblico, Lot.

Para quem leu Arsayalalyur, Lot é um personagem recorrente em meu texto e considerei isso um sinal para prosseguir. E assim segue. Um dia termino.

Também tenho um projeto, mais voltado para História das Religiões, onde me proponho a traçar uma linha do tempo do aparecimento do arcanjo Uriel através dos textos religiosos, canônicos e apócrifos. Vai ser a minha forma de me desculpar por fazer exatamente o que recriminava na literatura e artes visuais: transformar o arcanjo Uriel em vilão ou anti-heroi, que seja.

Meu objetivo é clarificar a história desse personagem bíblico, retornar Uriel, ou Luz do Senhor, ao seu lugar de direito, por mais doido que isso soe.

 

10- Conte alguma coisa da cultura pop que você gosta mas teria vergonha de falar em voz alta, e o que você gosta nessa obra (eu por exemplo amo os filmes de Crepúsculo).

Vez ou outra escuto aquelas músicas de sofrência porque são o puro suco da alma humana.

Têm o elemento primordial do romance universal e você se sente identificado com aquilo, muitas vezes.

Sobre literatura, eu gosto de Paulo Coelho.

Li “O Alquimista” aos oito anos de idade e segui lendo, posteriormente.

Agora me parece crime admitir isso, mas não consigo compreender a crítica, principalmente se ela vem de autores cujo conteúdo é aquém das obras dele.

Nessa leva incluo também o Dan Brown e J.K.Rowling.

O Dan Brown, por exemplo, de forma indireta me abriu as portas para a pesquisa sobre o arcanjo Uriel, ao mencionar o quadro “ A virgem das rochas” em seu romance, “O Código Da Vinci”.

Segui o fio e me deparei com um labirinto de curiosidades a respeito desse arcanjo que foi vetado do cânon bíblico, depois reinserido , depois retirado novamente em 2005 porque o então Papa, João Paulo II estava preocupado com o crescimento desenfreado de um suposto “culto” aos anjos.

Após Dan Brown, por exemplo, tomei conhecimento de pesquisas acadêmicas a respeito de Uriel, baseadas em fontes canônicas, como o trabalho do advogado e escritor Carmine Alvino, que descortinaram um novo panorama para a história de Uriel que, em suma, poderia se tornar um outro romance ou um trabalho acadêmico, quem sabe?

Tudo isso por causa de um livro de Dan Brown, vejam só.

 

11- E aqui o espaço é todo seu, Malizia. Pode falar o que quiser, fazer o seu jabá, elogiar, xingar, indicar...ou talvez tudo isso junto!

Se você me leu até aqui, parabéns, fico muito agradecida.

Estou sempre nas redes destilando ódio, caso alguém queira perguntar ou me dizer algo a respeito dos livros ou sobre Uriel ou sobre escrever.

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